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domingo, 11 de agosto de 2013

Sertão Central: Biblioteca móvel incentiva a leitura em espaços públicos

Eles saem por locais os mais inusitados e emprestam livros ao gosto do leitor, numa atividade inédita.
Quixadá. Grupos de jovens estão circulando pelas feiras livres, mercados públicos, comércio e até indústrias de Quixadá, Quixeramobim, Banabuiú e Senador Pompeu com uma novidade literária. Eles estão incentivando o hábito da leitura através deum projeto especial: o Bibliorodas Expedições Literárias.

Em carrinhos de feira, os participantes das expedições literárias Bibliorodas abordam os moradores e emprestam obras de diferentes estilos. Numa segunda visita, os livros são trocados fotos: alex pimentel.

Os voluntários sensibilizadores abordam feirantes e comerciantes, também empregados e patrões, oferecendo exemplares para leitura, dos mais variados títulos.

Os interessados podem escolher a gosto o acervo móvel disponível em um carrinho de feira, e aproveitar o tempo livre para a leitura. Quando o agente de leitura retornar o leitor devolve o livro e pode escolher outro.

Segundo uma das facilitadoras do Bibliorodas na cidade de Quixadá, a bibliotecária Carolina Nascimento, seu grupo está formando os locais de visitação. Um deles já funciona no mercado público, outro em uma galeria comercial, no Centro da cidade. O próximo ponto será na central de abastecimento, um espaço de comercialização de frutas, verduras e hortaliças.

Para ter direito a escolher e permanecer com os livros, quantos quiser, basta o leitor interessado se cadastrar, fornecendo o nome e o telefone para contato. As visitas são periódicas, de 15 em 15 dias, explica Carolina Nascimento.

Ela e outros nove amigos aprenderam a trabalhar com o projeto especial no início de julho quando foram visitados pela equipe da Bibliorodas. A oficina foi realizada no início do mês na Biblioteca Municipal de Quixadá. Nas aulas teóricas os participantes aprenderam noções de abordagem, a organizar a biblioteca e também conheceram experiências das professoras idealizadoras. Depois foram à rua, para as aulas práticas. O objetivo era treinar os sensibilizadores a não forçarem o público alvo a receber os livros. Aproveitar a descontração e a importância da leitura para persuadir o leitor. Agora as reuniões dos sensibilizadores das quatro cidades ocorrem virtualmente, através do Facebook, em grupo próprio.

Em Senador Pompeu, Augusto Neto, mais conhecido como Pererê Barros e Raquel Vitoriano ficaram deslumbrados com a proposta. Aceitaram o convite, participaram da capacitação e agora levam o hábito da leitura para as ruas de sua cidade. Na primeira experiência Raquel se deparou com um amigo o qual não gosta de ler. Ela havia oferecido um exemplar para uma irmã dele, mas ao se deparar com a abordagem diferenciada, dela, oferecendo livros, ele também se interessou. Com Pererê não foi diferente. No caminho para a fábrica de calçados onde foi criado um dos pontos de visitação foi abordado por uma moradora. Ela perguntou quanto custava um livro e ao explicar a sua proposta fez questão de ser incluída na relação de leitores.

Diferentes leitoresExperiência diferente viveu Romário Oliveira em Quixeramobim. Numa de suas primeiras visitas preferiu seguir para o comércio. Entrou numa loja, explicou o motivo da sua visita e ofereceu uma obra literária à comerciante. Houve resistência. Ela alegou não ter tempo, mas estava ali no balcão sem fazer nada. Tentou convencê-la, mas não teve jeito. "Ler um trechinho de uma estória ou um pedaço de um poema é melhor do que ficar olhando para o nada", disse.

Para o feirante Augusto Ferreira a proposta é bem vinda. Ele confessa ter pouca leitura e com isso dificuldade para entender as estórias. São mais de 30 anos acordando na madrugada e saindo para o mercado público antes do dia amanhecer. Quando chega em casa,a noitinha, está exausto. Dá uma espiada nos programas da televisão, mas logo cochila e dorme, além do mais a vista não está muito boa para ver as letras miúdas à noite. Recebendo os livros na mão e contando com a simpatia e o auxílio dos facilitadores quem sabe se torne um assíduo leitor.

Quem também elogia a iniciativa é a dona-de-casa Clara Magalhães. Ele confessou ter ficado surpresa quando viu uma turma carregando carrinhos cheios de livros pelas ruas de Quixadá e mais ainda quando tentou comprar um. Não precisava pagar. São emprestados, de graça.

Para ela, além de expandido para os bairros, esse exemplo deveria ser seguido pelos administradores públicos de todas as cidades cearenses e não como ocorreu na sua terra natal, quando retiraram a Gibiteca, um espaço destinado à leitura infantil, para colocarem um comércio de comidas no lugar.

Mais informaçõesBibliorodas Expedições Literárias http://www.bibliorodas.worspress.com/
bibliorodas@gmail.com Telefones: (88) 9778.9224 ou (61) 8570.5661


OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Amor aos livros precisa ser semeado
Os livros são objetos mágicos e transcendentes, e nos podemos amá-los no amor tátil, como diria o compositor baiano Caetano Veloso. E cada leitor, de fato, tem seu encontro único e particular no contato e na leitura de tal objeto, capaz de alavancar revoluções. Mas a leitura não deve permanecer no leitor, ela precisa ser vivenciada e, mais do que isso, ela precisa ser semeada. E a melhor forma de fazer isso, em tempos de internet, é compartilhar, e compartilhar não só o seu conteúdo, como também o seu objeto físico - o livro propriamente dito, para que este, além do mundo virtual, possa desbravar fronteiras. Por isso, o projeto Bibliorodas é tão importante para sensibilizar (palavra bonita!) leitores, pois compartilha e leva livros, para aonde justamente o povo se faz presente no seu dia a dia, ou seja: nas ferias populares, nos mercados, nas fábricas, nas praças, parques, escolas e nos aglomerados urbanos em geral. As pessoas que geralmente frequentam esses espaços, não leem por uma série de fatores, tais como a dificuldade de acesso, o alto custo dos livros, a falta de tempo, o ritmo cansativo do trabalho e etc. Esse projeto é um sucesso por vencer todos esses obstáculos apontados, pois os livros que circulam no projeto são gratuitos, frutos de doação, e vão ao encontro dos leitores por meio dos voluntários que conduzem os carrinhos de supermercado com os livros a serem distribuídos - que acabam funcionando como uma espécie de biblioteca móvel. É claro, também, que no fim das contas, os livros acabam por alcançar o seu objetivo primeiro, que é ser uma poderosa fonte de conhecimento e entretenimento. E fica sobretudo, o desejo para que os leitores através de suas experiências, de seus olhares singulares, também venham a compartilhar aquele mundo novo cheio de saberes e prazeres que lhes está sendo apresentado pelos livros.

Bruno Paulino*bruno_enxadrista@hotmail.com

*Pós-graduando em Filosofia da Educação, escritor autor do livro "Lá nas Marinheiras e outras crônicas"

Voluntários promovem rodas de livros


Quixadá. Ao longo dos anos de 2010 e 2011 duas professoras, Clara Etiene e Edna Freitas encontram numa experiência vivenciada no Distrito Federal o potencial das feiras livres para o estímulo do ato de ler. Naquele período, um grupo de voluntários realizou rodas de leitura, oficinas literárias e empréstimo de livros no Shopping Popular da Ceilândia. No ano seguinte, 2012, o projeto ganhou força e passou a circular entre as bancas dos feirantes, emprestando livros e interagindo com os leitores. Surgia então o Bibliorodas.

Edna Freitas e Clara Etiene se inspiraram em experiência vivenciada em Brasília para desenvolverem o projeto nas cidades da região

Acreditando no projeto de leitura as duas educadoras se inscreveram no Edital Bolsa Biblioteca Nacional com a Funarte de Circulação Literária. Foi um dos vencedores. Na proposta, a primeira expedição desse modelo de incentivo à leitura além do Planalto Central.

Elas escolheram o Sertão Central do Ceará para expandir os horizontes. Quixadá, Quixeramobim, Banabuiú e Senador Pompeu foram os municípios selecionados para receber o Bilbliorodas Expedições Literárias.

Segundo Edna Freitas, a região cearense foi escolhida em razão das raízes dela e da colega Clara Etiene com o Nordeste. Ela nasceu no Ceará, e a amiga, no Maranhão. Estavam à procura de locais onde são realizadas feiras com frequência e preferencialmente as mais tradicionais. Logo, a Feira de Animais de Quixadá, uma das mais conhecidas do Estado foi lembrada, considerada por muitos a mais famosa delas, onde costumam se reunir feirantes de várias regiões. No mesmo perfil, embora com menor potencialidade, vem os municípios vizinhos, então elas criaram o roteio da Expedição.

"A diferença da proposta delas para outros modelos de incentivo à leitura está no público alvo", explica Clara Etiene. O Bibliorodas tem como foco principal os feirantes, geralmente de pessoas com pouco acesso à educação formal e à leitura. Chegar até esses profissionais foi a alternativa encontrada para incluí-los nesse processo de formação. Em razão dos horários e na maioria deles, do baixo poder aquisitivo, dificilmente vão a uma livraria. Acabam ficando distantes do verdadeiro direito à cidadania, conforme observam.

Outro aspecto potencial em relação às feiras populares, nesses espaços as pessoas se encontram semanalmente para vender e trocar produtos e, em alguns casos, alimentarem-se culturalmente. Os feirantes, já instalados em seus boxes ou barracas, estão sempre à espera, seja do freguês, seja dos passantes, e esses fatores os tornam receptores em potencial.

"O feirante observa e lê o cotidiano a sua volta, daí a predisposição para sensibilizar o leitor", completa Edna Freitas.

Quando elas pensaram em realizar a Oficina de Sensibilização de Leitores, decidiram unir tanto o conhecimento adquirido com a leitura e estudos acadêmicos quanto a experiência vivenciada ao longo das atividades práticas. Graças à pesquisa de Mestrado desenvolvida por Edna, na Universidade de Brasília há alguns anos, ela criou o "Mapa da Leitura do Distrito Federal". A proposta se uniu ao Projeto "Eu sou Comunidade Consciente", também de incentivo à leitura. Eles possuem um acervo de mais de 4mil livros, mas não conseguem manter espaço físico para o funcionamento de uma biblioteca para a Vila Dnocs. Então, uma das parceiras sugeriu a Bibliorodas para viabilizar a circulação do acervo.

Atualmente, os eixos de articulação das Expedições Literárias são a formação de sensibilizadores de leitores, a instalação e circulação das Bibliorodas, a promoção de eventos literários e a disseminação da experiência na internet. Além das quatro cidades do Ceará, o projeto é desenvolvido na Ceilândia, uma região administrativa residencial do Distrito Federal, onde teve sua origem e residem as idealizadoras, Clara e Edna.

Clara formou-se em Letras, lecionou e estudou em seu Mestrado e Doutorado questões relacionadas à Leitura Literária. Desde 2010 desenvolve atividades de sensibilização literária em Ceilândia e Edna, natural de Baturité, conhece a estória das feiras livres de sua terra, Aracoiaba, Quixadá e Fortaleza e de Ceilândia. Desde 2007, ela atua em grupos de incentivo à leitura literária.
Fonte: Diário do Nordeste.

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