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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

sertão central Violência assusta em Quixeramobim

Assaltos à mão armada, arrombamentos de casas e até da Matriz foram revelados pelos moradores da cidade.

Assaltos, arrombamentos, tráfico de drogas e mortes. Uma cidade assustada com a escalada da violência pede ajuda às autoridades da Segurança Pública, da Justiça e do Ministério Público Estadual (MPE).

Ladrões arrombaram a Matriz de Santo Antônio, um dos ícones de Quixeramobim, e violaram um cofre. O ataque ocorreu em agosto. Acreditando que não haveria providências eficazes da Polícia, o pároco sequer fez B.O. Fotos: fernando ribeiro

Esse é o atual quadro vivido pelos moradores e visitantes do Município de Quixeramobim (206Km de Fortaleza), considerado estrategicamente como o centro geográfico do Ceará e que conta com uma população estimada em 72 mil habitantes.

Assaltos

Os relatos dos cidadãos deixam claro que a segurança ali está em xeque. Nos fins de semana, a tensão aumenta, a delegacia de Polícia Civil não funciona. O Fórum fica fechado e resta à PM se dividir no atendimento de ocorrências na sede do Município, na zona rural e, ainda, nas cidades próximas que não contam com efetivo suficiente. A Reportagem do Diário do Nordeste esteve em Quixeramobim e ouviu as queixas da população.

Um dos recentes atentados à tranquilidade de Quixeramobim teve como ´alvo´ um dos ícones da cidade, a Igreja Matriz de Santo Antônio. O templo foi arrombado por ladrões, que conseguiram violar um dos cofres e furtar todo o dinheiro que havia sido doado pelos fiéis.

"Foi no fim do mês de agosto. Quebraram a janela e um cadeado e arrombaram o cofre de São Antônio", relata o padre Antônio José Garcez. Segundo o sacerdote, a igreja decidiu não fazer um Boletim de Ocorrência (B.O.), por acreditar que tal procedimento não teria qualquer efeito. Segundo o religioso, o que aconteceu na igreja não foi um ato isolado. "Todos os dias nós recebemos relatos dos fiéis sobre assaltos, roubo de celulares, mulheres que têm as bolsas roubadas. Isso é corriqueiro", diz o padre. Ele conta também que outro templo no Município, a capela do distrito de Passagem, também foi atacada por ladrões.

"É uma situação triste. As pessoas nos contam que saem de manhã para trabalhar e quando retornam encontram suas casas arrombadas", diz o sacerdote.

Fugir
Outro cidadão que relata a violência em Quixeramobim é o ex-conselheiro tutelar Paulo César da Silva, que ocupa, atualmente, a função de articulador da Associação dos Conselheiros e Ex-Conselheiros Tutelares do Estado do Ceará. Preocupado e, ao mesmo tempo, indignado com a crescente violência em Fortaleza, ele decidiu se mudar com a família, há cinco anos, para Quixeramobim, acreditando que naquela cidade teria a paz para educar os filhos, manter a família longa da violência e poder trabalhar com tranquilidade.

O prédio onde funciona a Unidade Integrada de Segurança da cidade (USI) está em péssimas condições estruturais e não há delegado de plantão nos fins de semana

"Busquei isso tudo aqui em Quixeramobim, mas, de um ano para cá a situação está ficando, cada vez mais, complicada".

Até ´saidinhas´

Segundo o ex-conselheiro, até mesmo ´saidinhas´ bancárias, crime típico das grandes cidades, têm sido registradas em Quixeramobim. Ele conta o caso de um motorista de um transporte alternativo que foi atacado no último dia 12, uma quinta-feira. O caso ocorreu no distrito de Fogareiro, na zona rural e nenhum dos assaltantes foi preso. Pelo menos, cinco bandidos armados assaltaram o motorista, que, teve que entregar o dinheiro e por muito pouco, não foi morto pelos delinquentes na hora do ataque.

As queixas da população, segundo Paulo César, vão mais além da questão da segurança pública e alcançam também a inoperância das autoridades que deveriam tratar do combate à violência.

Segundo foi relatado pelos moradores, somente neste ano, pelo menos, cinco casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registrados pelo Conselho Tutelar da cidade e, até agora, apenas em um dos casos o Ministério Público do Município (Promotoria) agiu para apurar o fato e o acusado ser punido dentro da lei. Os processos se acumulam no Fórum e quando há julgamento popular o MP precisa ser representado por promotores de Comarcas vizinhas a Quixeramobim.

Nem B.O.

Nos fins de semana, a insegurança que já domina a cidade nos dias úteis aumenta. A Reportagem esteve na Delegacia de Polícia de Civil (na manhã do último dia 14, um sábado) e apenas dois jovens aprendizes estavam no prédio. Segundo eles, não havia delegado de plantão e simples Boletins de Ocorrência somente são feitos nos dias úteis.

Comerciante relata ação de bandidos

Aos 70 anos de idade, o comerciante e distribuidor José Amâncio Neto relata os casos de violência que sofreu nos últimos dois anos em Quixeramobim. Desde o longínquo ano de 1967, "Seu´ Amâncio mantém seu estabelecimento comercial às margens de uma estrada, na entrada do Distrito de São Miguel, distante 32 quilômetros da sede do Município e é ali que ele, a esposa e seus funcionários viveram constantes atos de violência recentes.

´Seu´ José Amâncio já sofreu cinco assaltos nos últimos meses. Ele conta que teve que contratar um policial para fazer sua segurança e paga aluguel do posto da PM

Amâncio conta que, nos últimos meses, foi assaltado, pelo menos cinco vezes. Os ataques são sempre marcados pela violência dos bandidos, que invadem o armazém dele já com armas de fogo em punho.

Roubos e ameaças

"Numa dessas vezes, eu estava lá dentro de casa, deitado, quando o bandido apareceu e gritando para que eu entregasse todo o dinheiro. Entreguei o que tinha em casa, mas ele queria mais e dizia que se eu não abrisse o cofre ia me matar. Eu e meinha mulher fomos ameaçados e tive que entregar tudo, mas esta foi só uma das vezes. Teve mais", conta o veterano negociante.

Em outro assalto recente, segundo o comerciante, dois ladrões apareceram numa motocicleta e roubaram todo o dinheiro que estava no caixa do armazém. Não achando pouco, eles disseram que iam voltar. E voltaram. Um deles apontou a arma para ´Zé Amâncio´ e repetiu que queria todo o dinheiro.

O comerciante tentou diminuir seu prejuízo afirmando que o dinheiro que tinha estava no caixa. O bandido, com um revólver na mão, apontado para a vítima, não se fez de rogado e bradou. "Toda vez que venho aqui é essa mesma história de que tem pouco dinheiro, vamos, diz logo onde está o resto...".

Em um terceiro assalto, segundo Amâncio, ele resolveu perseguir os assaltantes que estavam de moto. Na estrada, conseguiu jogar um caminhão contra a moto dos ladrões e fez os dois caírem. Um deles ainda conseguiu escapar mesmo ferido. O outro, ficou seriamente lesionado e acabou preso. "Ele foi preso. Mas, depois, me arrependi do que fiz. Ele ficou preso e jurou que ia me matar quando fosse solto".

Em mais um assalto em seu comércio, Amâncio disse que uma das funcionárias foi levada como refém por dois ladrões numa motocicleta e deixada na estrada a vários quilômetros dali.

"Chegadinha"

O mais recente episódio de violência pelo qual passou o velho negociante de Quixeramobim aconteceu no dia 1º de abril último. Mas não foi mentira. E Amâncio mostra o Boletim de Ocorrência que registrou.

Foi na porta de uma agência bancária, em plena 8 horas, começo de expediente. Ele foi até o banco depositar a renda obtida no fim de semana prolongado. Era uma quantia estimada em R$ 35 mil. "Quando chegava no banco, apareceram dois homens de moto e capacete. Um deles me derrubou com uma arma na mão e levou parte do dinheiro", disse o ancião, sem saber que este tipo de crime é conhecido na Capital ´chegadinha bancária´, e que chegou ao Sertão. Até agora, cinco meses depois do roubo, ninguém foi preso.

Deficiência policial agrava a situaçãoA deficiência de efetivo é um dos principais problemas que a Polícia enfrenta, tanto a Civil como a Militar. Além disso, a falta de estrutura adequada para os serviços da Segurança Pública são visíveis em Quixeramobim, conforme constatou a Reportagem. O prédio que abriga as duas corporações, e mais o Corpo de Bombeiros, revela completo desgaste e as péssimas condições de atendimento à população local.

O prédio da Unidade de Segurança Integrada (USI) está em precárias condições de funcionamento. O aspecto é de abandono. O mato cresce na frente do Quartel

Nos fins de semana, Quixeramobim fica sem delegado, sem juiz e sem promotor de Justiça, assim como acontece na maioria dos Municípios do Interior. Moradores relatam que, quando são assaltados nos sábados ou domingos, precisam esperar que chegue segunda-feira para o registro de um simples Boletim de Ocorrência (B.O.).

Já a Polícia Militar, tem que atender não somente às ocorrências de Quixeramobim, mas também dos Municípios vizinhos, o que desfalca a já precária segurança daquela cidade.

Informações colhidas pela Reportagem revelam que o delegado da cidade tem, várias vezes, que sair de lá para dar plantão em delegacias de Fortaleza nos fins de semana. Assim, o delegado-regional de Quixadá vem respondendo também pelas delegacias de Quixeramobim, Banabuiú e Ibaretama.

Ronda

"A situação aqui só não está ainda pior porque tem o Ronda do Quarteirão. Mesmo assim, a segurança não existe e quando chega a noite e o fim de semana a coisa fica muito ruim", contou outro morador, que preferiu não revelar a identidade. Na Unidade de Segurança Integrada (USI), o aspecto é de abandono.

O QUE ELES PENSAMDesabafo dos cidadãos

"Tudo piorou de um ano para cá. Já tivemos vários casos de furto de transformador aqui nessa região. Na cidade tem também tiroteio entre os traficantes de drogas. Um adolescente foi morto recentemente. E essa violência aqui em Quixeramobim, como em qualquer outro lugar, reflete nos negócios. Quixeramobim não era assim não, era uma cidade tranquila"

Ricardo PortoDono de um hotel fazenda

"Vim de Fortaleza morar aqui em Quixeramobim com minha mulher e meus filhos, acreditando que aqui ia ter paz. Fugi da violência na Capital. Mas, de dois anos para cá, essa cidade ficou muito violenta também. Teve um caso de um rapaz do transporte alternativo, que foi assaltado na semana passada por cinco bandidos na estrada. Quase ele era morto"

Paulo César da Silva
Ex-conselheiro tutelar

FERNANDO RIBEIROEDITOR DE POLÍCIA

Fonte: DN.

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